A Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) acaba de lançar no Brasil As Obras de Armínio,uma coletânea de textos escritos pelo teólogo holandês Jacó Armínio (1559-1609).
Embora majoritariamente arminiana, a igreja evangélica brasileira ainda não possuía traduzida para o português toda a extensão do pensamento deste importante teólogo reformado, por isso a publicação vem em um momento importante, numa época de redescoberta do arminianismo no meio evangélico nacional, iniciada principalmente a partir de debates e textos produzidos na internet.
A obra ajudará a desfazer uma série de mitos em torno da soteriologia arminiana, historicamente mal compreendida e equivocamente atacada. A leitura do pensamento original de Jacó Armínio demonstrará que o arminianismo não se confunde com o pelagianismo ou com o semipelagianismo, e que o seu pressuposto estruturante não é o livre arbítrio, mas o caráter amoroso de Deus.
Em seu livro Teologia Arminiana: Mitos e Realidades (1) o teólogo Roger Olson apresentou dez mitos produzidos historicamente contra a teologia arminiana, contrapondo com afirmações contundentes sobre as reais doutrinas bíblicas defendidas pelo modelo clássico de Armínio, o qual tem um lugar de direito na igreja por possuir profundas raízes dentro da teologia reformada.
Embora alguns teólogos tenham receio de se identificar com a linha arminiana, ante o temor da imposição de rótulo, fato é que o pentecostalismo está dentro dessa tradição teológica. O amigo Silas Daniel em seu artigo Em Defesa do Arminianismo, publicado na revista Obreiro Aprovado n. 68, lembrou que a Assembleia de Deus é uma denominação tradicionalmente arminiana, contudo, em virtude da ausência de literatura e ensino claro sobre a soteriologia arminiana no meio pentecostal, o calvinismo passou a ocupar espaço em nossos arraiais, assim como pregações carregadas de conotação semi-pelagiana (Dê um passo para Deus e ele dará outro em sua direção).
O acesso às Obras de Armínio evidenciará que a Teologia Arminiana é uma teologia da graça, centrada em Deus, que parte do pressuposto da completa inabilidade do homem de, e por si mesmo, iniciar o processo de salvação, e que defende a expiação vicária de Cristo.
Àqueles que têm receio de se identificar com a tradição teológica arminiana é importante lembrar que tal identificação não significa substituir o Evangelho ou as Escrituras. Afinal, o arminianismo não é o Evangelho em si. O principio do Sola Scriptura é basilar no cristianismo, a fonte primária da teologia cristã (2 Tm 3.16,17).
Ainda assim, historicamente o cristianismo tem se valido de três fontes e normas secundárias para definir a interpretação correta das Escrituras: a Tradição, a razão, e a experiência. Ou seja, a própria interpretação das Escrituras passa por essas três fontes, uma vez que dependemos de ferramentas interpretativas para compreendê-la.
A Tradição (não o tradicionalismo), como escreveu Roger Olson (2), é o consenso cristão, com a formação do cânon, regras de interpretação e doutrinas elementares. Os protestantes, embora ressaltemos a Escritura acima da tradição e de qualquer outra fonte e norma teológica, não invalidamos a Tradição da história cristã, porquanto dependemos de nossos antepassados para compreender uma série de doutrinas bíblicas.
A Teologia Arminiana, então, não é um substituo das Escrituras. É uma forma legítima de interpretá-la.
Portanto, saudamos a chegada ao Brasil das Obras de Armínio!
Referências:
1) OLSON, Roger. Teologia Arminiana: mitos e realidades. São Paulo: Reflexão, 2013.
2) OLSON, Roger. História das controvérsias na teologia cristã: 2000 mil anos de unidade e diversidade. São Paulo: Editora Vida, 2004, p. 79.
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Daqui: http://www.cpadnews.com.br/blog/valmirnascimento/enfoque-cristao/115/as-obras-de-arminio:-a-redescoberta-da-teologia-arminiana-no-brasil.html