ASSEMBLEIA DE DEUS

Cessacionismo: teologia da incredulidade — entrevista com Edson Camargo

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Templo de Apolo em CorintoBlog Julio Severo: O que mais lhe chamou a atenção na resenha de Mauro Meister sobre o livro Surpreendido com a Voz de Deus, de Jack Deere?

Edson Camargo: Sinceramente, Julio, a fragilidade da argumentação. A certa altura, Mauro Meister comenta:
“A pergunta que nos fica é como validar essas experiências do autor. Só podemos contar com o relato e a interpretação que ele mesmo dá! Um problema fundamental é o daquelas pessoas que perguntam: E por que Deus não fala assim comigo?”
Bem, como então validar a experiência de conversão de Mauro Meister? Só podemos contar com o relato e a interpretação que ele mesmo dá. A pergunta de Meister sobre as experiências de Jack Deere só faz sentido se desprezarmos toda experiência espiritual que se dê puramente no âmbito subjetivo, na vida interior da pessoa. “Só podemos contar com o relato e a interpretação que ele mesmo dá!” diz Meister, esquecendo que é exatamente com base nestas experiências interiores que é possível ao cristão dar o testemunho da experiência do novo nascimento, do abandono de velhos pecados, da cura das emoções por meio do perdão, e das mudanças no caráter por meio de firmes decisões baseadas na obediência às Escrituras e ao Espírito Santo.
Meister, aqui, fala de forma análoga ao ateu ou o agnóstico, que, por nunca ter experimentado o novo nascimento em Cristo, fica pedindo mil e uma evidências para um cristão que sabe que o novo nascimento é, antes de tudo, uma experiência interior, da alma.
No fim das contas, o cessacionismo, entendido como a negação da contemporaneidade de dons sobrenaturais do Espírito como curas, línguas e profecias, é exatamente isto: uma teologia da incredulidade.

Blog Julio Severo: Você consideraria válida a crítica de Meister relativa às possíveis frustrações de algumas pessoas, caso não experimentassem o que Jack Deere passou a viver assim que passou da posição cessacionista para a crença na atualidade dos dons sobrenaturais do Espírito Santo?

Edson Camargo: O que Meister fez foi lançar uma hipótese pessimista: “algumas pessoas podem se frustrar”. Por que não lançar também uma hipótese na direção oposta? “Agora, pessoas que tinham restrições ou desconfiança com os dons sobrenaturais do Espírito podem, a partir dos relatos e argumentos de Jack Deere, abrir-se para toda uma nova dimensão de possibilidades, de intimidade com Deus e de produção de frutos espirituais em suas vidas”. Não foi justamente essa a intenção de Jack Deere em sua obra?
Quando Meister e cessacionistas semelhantes a ele, sejam calvinistas ou não, afirmam que “um problema fundamental é o daquelas pessoas que perguntam: E por que Deus não fala assim comigo?”, podemos concluir que esse pode ser precisamente o caso deles. Por outro lado, milhões de cristãos renovados, carismáticos, pentecostais e neopentecostais, que compõem a maior parcela da igreja evangélica no Brasil, SABEM que, mesmo crendo nos dons sobrenaturais do Espírito, muitas vezes se experimenta “o silêncio de Deus” em mais de uma área da vida. Um silêncio que, para os cessacionistas, parece ser a coisa mais normal da vida cristã. É o caso do surdo de nascença que duvida da existência da música.

Blog Julio Severo: O comentário de Meister, então, ao seu ver, ilustra um desconhecimento real sobre como é vivido o Evangelho pela maior parte das igrejas protestantes históricas do Brasil hoje?

Edson Camargo: Sim, essa, na verdade, é uma implicação do cessacionismo em si mesmo.  Mas não a única. Até pelo fato de ser uma posição a cada dia mais rejeitada pela totalidade dos evangélicos, o cessacionismo impõe ao seu defensor ficar numa situação delicada: acreditar e defender, ainda que não com toda a franqueza e contundência, que todo cristão renovado, carismático, pentecostal ou neopentecostal está sempre “viajando na maionese” ou é um impostor, quando o assunto são as experiências com os dons sobrenaturais do Espírito Santo.

Blog Julio Severo: A acusação de Meister, de que crer na atualidade dos dons sobrenaturais do Espírito Santo equivaleria a rejeitar o “Sola Scriptura”, faz algum sentido?

Edson Camargo: Não, nenhum. Não se conhece nenhum líder ou teólogo sério que seja um protestante renovado, carismático, pentecostal ou neopentecostal que negue a suficiência das Escrituras Sagradas. Se há algo que não traz o risco da revogação da autoridade, da completude e da inerrância das Escrituras é a crença na contemporaneidade dos dons espirituais, que, antes de tudo, leva as pessoas de volta à leitura das Escrituras, e nelas têm sua atuação com os dons descrita, defendida e incentivada. “Dou graças a Deus que falo em línguas mais que todos vocês”, diz o apóstolo Paulo, na Palavra que “permanece para sempre”. Falando uma coisa dessas — e aqui parafraseio uma crítica de J. Rodman Williams a cessacionistas dos EUA — o apóstolo jamais seria convidado para escrever na Fides Reformata.
O outro lado, o dos renovados, pentecostais, etc., se fundamenta no sentido mais imediato e literal de diversas passagens bíblicas, mas com uma diferença: além de tudo, têm os FATOS ao seu favor: são curas, palavras confirmadas, experiências pessoais diversas, milagres e maravilhas acontecendo em suas igrejas, em suas casas, e entre seus irmãos na fé. E mais: são fatos recorrentes, associados a pessoas que creem não só na contemporaneidade dos dons, como na posse real de alguns destes dons. É verdade que nem sempre o fato do milagre aponta para a presença real do dom relacionado a ele, mas é digno de nota que relatos de milagres sejam muito mais frequentes nos ambientes nos quais se crê na atualidade dos dons. Portanto, para reforçar a veracidade dos relatos de Jack Deere, temos mais que apenas seus relatos e interpretações. Temos o testemunho de milhões de cristãos que creem na contemporaneidade dos dons sobrenaturais do Espírito Santo.

Blog Julio Severo: Com a maioria esmagadora dos evangélicos brasileiros rejeitando a posição cessacionista, com um número crescente de grandes teólogos passando a crer na atualidade dos dons de milagres, curas e profecias, e um crescimento mais acelerado das denominações carismáticas e pentecostais do que das denominações cessacionistas, como você vê reações com a de Mauro Meister, nesta resenha, e outras?

Edson Camargo: Penso que a fragilidade da posição cessacionista está ficando cada vez mais notória. O que restou a Mauro Meister nesta resenha? Lançar dúvidas sobre a veracidade dos relatos de Jack Deere, sem base objetiva alguma. Juízo temerário puro e simples. Mas para os cessacionistas, não há alternativa. Para eles, se é que de fato acreditam em sua posição teórica, os relatos de pessoas que vivem a realidade dos dons do Espírito Santo ou são mentira, ou são pura alucinação. Ou talvez ainda a evidência do poder da auto-sugestão. Tudo o que eles fazem em relação à contemporaneidade dos dons é se ater ferrenhamente a uma tese teológica muito débil e altamente questionável: “as prescrições dadas nestes versículos não valem mais para os dias de hoje”. E então acrescentam outras justificativas, de cunho muito mais teórico e especulativo do que estritamente bíblico.

Fonte: http://juliosevero.blogspot.com.br/2013/09/surpreendido-com-voz-de-deus.html

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